segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Como num filme sem um fim

Se de um verso fez canção, contemplando a solidão...


Era uma vez um garoto. Assim como eu, ele amava os Beatles e os Rolling Stones.

Esse garoto vivia na lua. Se não era na lua era num universo paralelo. Ou talvez até fosse o mundo real, mas sua cabeça com certeza não estava aqui, ela vagava na solidão dos quatro cantos estelares, sempre na esperança de encontrar um semelhante.

Era um garoto diferente. Ele não sabia o que queria, mas fazia questão de fingir que sabia. Orgulhoso como ninguém, sabia o que falar na hora certa a falar. Era muito racional, e isso diversas vezes foi mais um defeito do que uma virtude. Apesar de tudo, era um garoto ingênuo, e às vezes (sempre) se decepcionava.

Por ser um garoto que não costumava ter muitas companhias, desenvolveu seu lado racional, e esqueceu a emoção por um breve período de tempo, o bastante pra praticamente defenestrar seu coração, e colocar no lugar um cubinho de gelo.

Era meio inconseqüente, esquecia que alguns de seus atos e palavras podiam ferir mais profundamente que se utilizasse de uma espada. Mas o fazia sem intenção, e pedia que o absolvessem.

Alguns tentavam fazer contato com o tal garoto. Poucos conseguiam algum êxito. Foi então que apareceu uma garota.

A garota conseguia modificar totalmente o espírito dele. Ela transformava as noites frias e escuras da monotonia lunar em um espetáculo psicodélico onde a trilha sonora não importava, contanto que ambos soubessem cantar. Aos poucos, o ponto alto do seu dia passou a ser à noite. Ele esquecia que tinha compromissos logo cedo e se jogava aos encantos da madrugada, noite à dentro, vida à fora.

Mesmo com tamanha mudança na rotina, ele sabia o que estava fazendo. Ele sabia de seus limites, e sabia até onde podia ir. Ou pensava que sabia. Já se decepcionara tantas vezes, e aprendera tanto com isso que uma a mais não lhe faria cair a ponto de não conseguir levantar. Afinal, ele era mais razão do que emoção.

Aos poucos, a situação pareceu mudar, mas ele só percebeu isso ao ficar sem a companhia da tal garota. A abstinência despertou a dependência, e ele sabia que isso refletia nela também.

Felizmente era um garoto que conseguia envolver seus pensamentos em um recipiente e deixá-los de lado diante da correria cotidiana. Mas depois disso esses pensamentos teimavam em aparecer durante todo o dia. Uma música, uma frase, e até o horário no cantinho inferior direito do seu computador podia ser a chave que liberava os pensamentos, e a partir disso eles se perdiam no horizonte infinito de uma tarde nublada.

Ele tremia, mas não sabia se era de frio. Desejava com todas as forças que aquilo continuasse, que cada um controlasse do jeito que podia, e que aquelas noites de intermináveis piscares de olhos voltassem a se repetir por toda a eternidade.

Temia ter sido precipitado a ponto de estragar tudo dizendo que os limites não existiam mais. Errou mais uma vez. Era óbvia a existência de tais limites. Ambos sabiam, mas ele, sem pensar, ignorou. Logo depois se arrependeu. E mais adiante quis bater com a cabeça numa pedra lunar. O coelho não deixou, felizmente.

Agora o garoto vive assim, esperando a noite chegar pra receber mais uma dose de atenção da garota, ainda tremendo sem saber ao certo se é realmente o frio, mas com a promessa de não agir mais sem pensar, como inconseqüente que é.

Hoje o garoto me ligou, mandou dizer que sente muito.


Nenhum comentário:

Postar um comentário